terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Farei de tudo para te salvar

"Quarto branco, teto, chão e paredes, sem móveis, apenas um jarro de barro com uma cabaça pendurada. Duas portas figuram no quarto juntamente de uma janela de vidro, de onde não dá para se ver nada, somente um fortíssimo brilho de luz branca. Entro ofegante no quarto pela menor porta, uma em que tenho q passar de lado, a roupa branca e gotas de suor pontilhando a minha testa. Apenas um homem estava na sala, sentado ao lado da janela com a face mais serena que já vi em toda minha vida, como se a paz emanasse dele, e uma alegria tão forte povoou o meu coração que só conseguia olhar pro rosto daquele homem que sorria com os olhos. Ele olhou pra jarro de barro e logo entendi que ele queria água e enchi a cabaça de água e estendi para ele, mas ele a empurrou graciosamente com a mão e acenou para que eu bebesse por causa do meu cansaço que já estava quase desaparecendo. Quando fui deixar a cabaça vazia junto do jarro novamente ouvi sua voz forte, mas carinhosa e terna dizendo: 'Farei de tudo para te salvar.' e sem olhar para trás, segui pela outra porta da sala, mais larga que a primeira."
Quando acordei daquilo tudo, estava sentado no banco da capela que estava antes de cair nesse transe e a primeira coisa que me veio a cabeça foi a identidade daquele homem, e a resposta veio imediatamente no meu coração e a imagem do homem empurrando a cabaça de volta pra mim com sua mão direita com uma cicatriz bem na divisão entre a mão e o pulso veio em minha mente. 'Era Jesus.'

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

[Tertúlia Virtual] Fogo



"Amor é Fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente..."
p.s:. Desculpem o atraso para a postagem, mas essa foto que queria postar estava em um pendrive perdido e eu só achei ele agora. Tentem achar corações na foto, ela está repleta deles...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

[Desafio aceito] Flores são Fadas

Quem não gosta de flores? As fadas dos corações apaixonados, desolados, entristecidos, amargurados. Têm a magia capaz de curar as maiores mágoas e tristezas. Uma bela flor pode mudar uma vida.
Flores, as eternas mártires. Se sacrificam pela felicidade das pessoas. Também, tanta beleza tinha que custar um preço, não que ele seja justo, mas é o preço que elas pagam por serem tão belas e mágicas. São meses de luta para brotar, crescer, se embelezar para então gerar cinco minutos de alegria, que às vezes são esquecidos em um vaso no canto mais escuro da casa, mas mesmo assim vale à pena.
Todo mundo deveria ter o prazer de receber flores, homens, mulheres, velhos, crianças. Ver o fulgor inocente de rosas brancas que ao ver a face de um casal apaixonado se deixa enrubescer, pintando o miolo de suas pétalas de um rosa plácido. Isso é vergonha de tal amor. Ver a curiosidade do girassol que se vira para ver mãe e filho se abraçarem depois de anos de saudade engarrafada, usando como desculpa o sol que os emoldura na janela.
Todos deveriam ver flores em um imenso campo, a imagem perfeita da entrada do paraíso, um campo de tulipas, diversas cores, diversos olhares das fadas envergonhadas que se escondem sob a forma floral para não se deixarem reconhecer.
Todos deveriam ver a integridade com que uma flor morre, se deixa arrancar sem manchar sua imagem de pureza por qualquer resquício de dor ou tristeza, pois sabe que aquela é a sua missão, alegrar os corações carentes. A força com que a flor resiste ao tempo para permanecer bela por mais tempo, ela luta pela sua beleza, não por vaidade, mas pelo prazer de gerar alegria.
E até quando desfalece já sem cor, com sua cabeça pendendo para o lado, ela se apresenta bela, pois cai composta, sem desespero, como quem aproveitou muito bem seu tempo de vida, morre com face tranqüila de quem cumpriu sua missão.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A escrita é um teatro e a folha é um palco

Movido pelos comentários da última postagem, me vi no dever de mostrar a minha forma de ver a minha escrita, e por que às vezes pareço levar tão a sério coisas tão banais, como uma noite de bebedeira...
Nivelo a arte de escrever aos parâmetros da atuação teatral, na qual estou mais familiarizado, e quando escrevo, da mesma forma de quando se assimila um personagem, se vive o momento presente que está atuando todas as noites durante o espetáculo. O bom ator é aquele que não se vê surpreendido com uma mudança de situações nas vésperas da estréia, é aquele que está tão personagem que apenas vive o momento da nova situação.
Quando se escreve, entra-se em uma intimidade tão profunda com os personagens que abre-se mão de conhecer o futuro deles, e apenas vive o que escreve, retrata-se cegamente todas as reações, sem pensar em estar sendo dramático, ou seco, ou insensível, ou até mesmo ilegível. Apenas se vive.
Quando escrevo, atuo. Sou tão personagem que choro, rio, me desespero e me inquieto juntamente deles. Sofro com a traição e me conglatulo do sucesso de meus personagens, me familiarizo tanto com eles que pouco importa o futuro e o desfecho do texto, se pudesse nunca acabaria... Mas como sou limitado pelo tempo e pelas linhas, assim como o ator o é pela paciência do espectador, o finalizo em um momento de dúvida ou continuação, dando margem para a história que ainda está a desenvolver-se em minha cabeça, para que possa voltar àquela história assim que sentir vontade de viver mais daqueles momentos.
O fim de um conto nunca é seu verdadeiro fim, sempre me resta um pouco mais de idéias, um pouco mais de pensamentos, que são guardados e vão crecendo e se desenvolvendo com o tempo, sempre buscando seu verdadeiro fim.
Sou dramático por natureza teatral a que pertenço e o drama permeia o meu texto assim como a água em terra seca, mas se me ponho em situações intensas e extremas, é simplesmente pelo puro analisar do momento e pelo desejo de desenvolver mais aquela situação à procura de um eterno verdadeiro desfecho.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Um 2009 repleto de felizes silogismos

Como havia prometido, volto em 2009 com novos silogismos, sejam eles poéticos ou não, reinvindicantes ou bobos, homenagens ou protestos...

Este será um ano de muita felicidade e crescimento para todos nós, com muito boas leituras, que sei que vocês me proporcionarão, e muita escrita boa.

E uma novidade muito nova para quem passar para conferir um silogismo será a transformação de alguns contos que vocês leram por aqui e outros muitos que virão em livro. Sim, pretendo transforma parte dessa minha casa virtual em casa de papel. Esperem e verão...

E para começar o ano, vou deixar como presente de Natal e recepção do novo ano um conto fresco para vocês que tem boas probabilidades de ir parar no papel...

Verdes Olhos

Mauro estava sentado nu sobre os lençóis de sua cama cheirando a sexo. O arrependimento lhe pesava a alma como se fosse uma imensa pedra de gelo. Suas mãos estavam geladas e seu olhar perdido.
Sheila acabara de sair sem deixar uma palavra sequer, apenas aquele olhar verde e vidrado cheio de dor e repulsa. As malas dela não permaneceram cinco minutos dentro daquilo que um dia fora chamado de lar. Agora mais parecia um pulgueiro cheirando a falso amor, simples sexo, cheirando ao acre odor da solidão.Estava só sem nem conseguir se vestir, sentia vergonha de si e nojo do cheiro de álcool misturado com perfume barato de mulher.
Nunca deveria ter bebido daquele jeito, nunca deveria ter saído depois do serviço, era advogado de uma empresa de consultoria, nunca deveria ter se aproveitado da ausência da esposa, nunca deveria tê-la traído.
A mãe de Sheila estava internada em estado terminal e ela foi passar os últimos dias ao lado da mulher que a criara. Foram 3 dias ao lado da cama no hospital e 2 ao lado dos irmãos, tinha 2, os consolando pela morte e preparando funeral. Foi extremamente forte. Ela ligava toda noite para saber se estava comendo direito, como andava, do trabalho, se a Marlene estava limpando a casa direito, para contar todos os detalhes da situação da mãe, ligava para chorar e para matar a saudade.
Tinha 5 dias que a havia deixado no aeroporto com promessas de volto logo e não restara mais nada, apenas um homem nu sentado em cima da bela cama do casal sentindo o silêncio da ausência.
Mauro tivera um dia de casos difíceis na empresa e decidiu ir tomar uns drinques no bar mais próximo para relaxar e depois dormir mais facilmente. Então surgiu uma mulher de olhos vivos e corpo torneado, que somado aos muitos uísques e um bilhete o convidando para aventuras o fez agir sem pensar. A pegou pela cintura e a levou para seu apartamento trocando carinhos no carro pelo caminho sem nem saberem seus nomes.
Quando a mulher de nome desinteressante saía de sua casa, ele ficava deitado ouvindo atentamente o barulho da porta se abrindo e do elevador chegando ao andar, seguido de passos indecisos e vacilantes pela casa.
“Será que essa mulher esqueceu alguma coisa?” Pensou ele acompanhando os passos lentos, mas decididos que aumentavam seu ruído. Se descobria para tomar um banho quando viu a mulher que dizia amar com o olhar doído fixo sobre ele. Um olhar de profunda decepção misturado com asco e desprezo.
Sheila deixou a mala no chão, foi andando até a cômoda onde pegou um porta-retrato onde estava sorrindo ao lado dos pais, deu meia volta, pegou sua mala e saiu sem dizer nada, apenas o barulho dos sapatos no compensado e o fechar da porta.
“Ela precisava de amor e consolo e eu dei a ela decepção. Vacilei quando ela mais precisava. Não a traí somente, também traí a mim. E aqueles olhos me olhando... Nunca vou me esquecer.”
Olhos doloridos que levaram até as lembranças, lembranças que se foram turvadas pelas lágrimas e junto com o verde dos olhos decididos que não mais voltarão.